30 novembro, 2012

Conversando com Deus



Já eram seis da tarde e nós ainda estávamos brincando no jardim quando voinha chamou a atenção de Bento.
- Escuta, Bento! Escuta! Lá longe, o sino tocando.
Ele para o futebol, olha longe no céu e me pergunta:
- O que é sino?
- Sino, é um instrumento lá da igreja que avisa as pessoas que a missa já vai começar.
- O que é missa?
- Missa é um lugar onde muita gente vai para rezar, agradecer a Papai do céu por tudo que tem na vida.
Ele sinalizou que entendeu e eu continuei.
- Mas a gente pode agradecer daqui, sem ir até a igreja. Tu quer?
Ele fez que sim.
- Então, tu vai agradecer pelo quê?
- Eu vou agradecer a Papai do céu para ele não fazer mais isso com mim... espirrar...

Claro que deu dó do bichinho, que já tinha espirrado e tossido o dia todo por causa de uma gripe. Dei logo um super aperto nele e disse que tenho certeza que Papai do céu vai pensar com carinho no pedido. 
Não pude deixar de lembrar de mim, que cheguei a escrever uma carta para Papai Noel pedindo um nariz novo, já que o meu não me servia muito bem. Nunca fui atendida. 

Pensando sobre isso agora, Bento talvez tenha uma chance. Pelo menos soube pedir ao Papai certo.

03 novembro, 2012

Cinema mudo

O cartaz do filme recebeu uma corzinha

Sábado é dia de Bento. Riva e eu resgatamos ele no shopping e levamos para um passeio que ele ama, almoço no Paço Alfândega, sorvete na sobremesa e depois uma volta na Livraria Cultura. Como este fim de semana está rolando o VIII Festival de Circo do Brasil, o auditório da Cultura acabou incluído na programação e apresentou um filme que tem a cara do tema. O Circo, estrelado por Chaplin, de 1928. Um clássico do cinema mudo e claro, todo em preto e branco.
No começo até achei que Bento iria pedir para sair antes, que nada! Tal como nós deu altas risadas e o que não entendeu perguntou "O que foi, hein?" Eu explicava, a cena seguia. Mas não é para menos. Chaplin é grande, imenso em talento, carisma, desenvoltura. Chaplin é rei. Vê-lo atuar é sempre uma felicidade e deixa aquele gostinho de quero mais. Quero mais filmes bons, sem enredos mirabolantes, sem precisar de efeitos ou grandes tramas. A boa história + o bom ator. Elementos às vezes esquecidos na nova cartilha das telonas.
E hoje, um filme inocente produzido na década de 1920, quando essa arte ainda engatinhava, nos deu boas risadas e uma leveza na alma. Chaplin iluminou nosso fim de semana e Bento saiu da sala dizendo "Quero ver de novo, tá?"
Vai ver, meu amor. Tenho certeza que vai...

Um cara liso vai fazer teste para trabalhar no circo 
e encontra na triste bailarina uma grande amiga

Ele é muito desastrado e depois de contratado está sempre arrumando confusões no circo, 
como essa, quando ficou preso na jaula do leão

Para chamar a atenção da bailarina 
ele foi capaz até de fazer o número do equilibrista

Mas é claro que com ele tudo complica e os macacos 
resolvem participar do número, o que deixou tudo ainda mais difícil...

A negociação


Sei que parece cedo...
Muita gente diz para eu não me importar com isso agora, que Bento ainda é um bebê, que é maldade minha querer tirar dele esse dengo, esse prazer... mas, fazer o quê? Eu gostaria muuuuuiiitoooo que ele largasse a mamadeira o quanto antes possível.
Talvez seja o medo de acontecer com ele o mesmo que comigo, uma referência vergonhosa no assunto. Na verdade não conheço ninguém que tenha chegado tão longe no uso de uma mamadeira. Só a larguei aos nove anos. Nove! E depois que precisei beber o leite no copo e senti o cheiro terrível que ele tem, nunca mais  bebi. Até hoje enjoo se alguém estiver manuseando o bendito leite. Tenho horror ao cheiro, ao sabor...
Queria que Bento se acostumasse a beber leite no copo desde cedo e tomasse gosto pelo hábito. Seria ótimo para ele. Então iniciei uma campanha descarada contra as mamadeiras. Venho conversando um pouquinho todo dia, comprando copinhos para substituir e até prometi que ele ganharia uma bicicleta no aniversário de 3 anos, mas só se ele fosse mesmo um menino forte e corajoso que já pode andar de bicicleta.

- Eu sou forte. - disse mostrando o braço cheio de dobras.
- Estou vendo que você é forte. E corajoso, será que é?
- Eu sou corajoso! - esse foi pronunciado com solenidade e movimentos de super heroi.
- Muito muito?
- Muito muito. E sou forte e já estou quaaase g(r)ande.
- Mas eu quero saber se tu tem coragem de fazer uma coisa beeeeeeemmmm difícil.
- Eu tenho - ele garantiu.
- Então eu quero ver se no dia que a tua bicicleta chegar tu tem coragem de pegar aquela panela cheia de mamadeira e jogar ela ali no lixo. - e apontei para o destino final das coitadinhas.
- Ôxe! Jogar uma panela cheinha de mamadeira no LIXO?! - e arregalou os olhinhos de um jeito lindo antes de continuar. - Mas isso não se faz! Que história é essa?

A risada foi geral. Tudo bem, peguei pesado e acho que ele está certo. Isso não se faz. Vou pensar num jeito mais tranquilo de ele abandonar a mamadeira. A bike vem de brinde por ser tão inteligente.